4 dicas para uma boa decupagem

4 dicas para uma boa decupagem

 

Um dos aspectos mais importantes, ao decupar um roteiro, é ser capaz de imaginar e descrever como cada cena será enquadrada no filme

Não existe bom filme sem uma boa decupagem, já que esse trabalho é essencial para tirar as ideias do papel e executá-las. A palavra vem do francês, découpage, e corresponde ao roteiro para filmagem, ou seja, a versão do roteiro que contém os planos detalhados para gravação, posições e movimentos de câmera, direcionamento do quadro, mudanças de plano e assim por diante.

O termo foi usado pela primeira vez no cinema ainda nos anos 1910, quando o vocabulário da estética cinematográfica começava a ser construído. A palavra decupagem sofreu uma distinção quando passou a ser utilizada em Hollywood, nos Estados Unidos, como uma designação mais técnica, totalmente voltada para a edição.

Já no cinema europeu e também no Brasil, ela representa como o roteiro será gravado, no que diz respeito à estética, para que as ideias se tornem algo concreto. É como se o diretor “dissecasse” cada cena do roteiro, descrevendo a maneira como o público verá o filme, no tempo e espaço. Por isso é tão importante fazer uma boa decupagem.

Passo a passo para a construção do filme

Um filme é formado por uma série de sequências; que, por sua vez, são formadas por planos. A decupagem segmenta a cenas do roteiro em uma espécie de passo a passo, com indicações para a equipe (principalmente para o diretor de fotografia e o produtor) sobre como as situações descritas na história devem aparecer na tela.

“Se tudo está no quadro, por que se dar ao trabalho de fazer o filme?” A frase é do cineasta espanhol Luis Buñuel e ilustra de forma interessante a importância da visão do diretor no processo de decupagem. Afinal, é ele (ou ela) quem decide como o filme será representado na tela, fragmento por fragmento – ou seja, o que estará em quadro em cada momento.

Mesmo um filme com lindas imagens e performances maravilhosas pode não ser cinemático, se não tiver uma boa decupagem. A composição visual do filme, para que ele seja mais do que apenas fotogramas animados, permite contar a história de maneira única, criando uma atmosfera e uma estética capazes de potencializar a narrativa.

É na decupagem que as ideias do cineasta são definidas, subdivididas, reagrupadas e organizadas. Ainda que seja apenas um rascunho e que possa ser modificada no processo de filmagem, essa fase permite que o filme comece a ser construído na cabeça do diretor, para depois ser transmitido de forma consistente ao restante da equipe.

4 dicas essenciais para decupar um filme

“Quebrar” o roteiro em uma série de planos/sequências, com algumas informações técnicas, para guiar os principais integrantes da equipe, é algo que deve ser realizado o quanto antes, durante a pré-produção do filme. O trabalho de decupagem também pode ajudar a revelar falhas estruturais no roteiro, já que permite ao diretor analisar detalhadamente todas as camadas da narrativa, mergulhando a fundo no sentido de cada cena.

  1. O primeiro passo para uma boa decupagem é fazer uma lista contendo cada uma das cenas do roteiro, escrevendo uma breve descrição dos eventos que acontecem. Organização é uma das características essenciais de um bom realizador audiovisual. Isso também permitirá ao diretor uma enorme clareza sobre a estrutura do filme e sobre cada momento importante da história.
  2. A segunda dica é buscar pontos de reviravolta no roteiro, que levem a narrativa a novas direções. Observe os relacionamentos entre os personagens, os arcos de desenvolvimento, analise os temas e subtemas abordados. A partir disso, pense nas melhores maneiras de representar visualmente esses aspectos narrativos e conceituais.
  3. A terceira dica, para fazer uma boa decupagem, é estudar a linguagem cinematográfica. Aprenda a utilizar os termos técnicos mais comuns na cinematografia, para ser capaz de descrever ao diretor de fotografia como você imagina os planos. Por exemplo, um enquadramento pode ser um plano aberto, um plano americano, um plano próximo, e assim por diante. A angulação da câmera pode ser frontal, plongée (ângulo alto), contra-plongée (ângulo baixo), etc. Com relação à movimentação, a câmera pode estar parada, fazendo uma panorâmica, um tilt (movimento vertical, para cima ou para baixo), um travelling (posicionada sobre trilhos), etc. Ou seja, o diretor precisa comunicar como os personagens serão enquadrados na cena e quais as movimentações que irão aparecer na tela, para o espectador.
  4. A quarta dica para uma boa decupagem é tentar imaginar cada cena com o maior detalhismo possível, se possível traçando um storyboard para visualizar os planos e movimentações de câmeras escolhidos. A ideia é apresentar a história de forma a gerar uma resposta emocional por meio das escolhas visuais. Por exemplo, a imagem de um casal cruzando uma ponte, seguido por um close-up de um pedaço dessa ponte se partindo, pode gerar uma reação imediata no público, simplesmente pela justaposição dos planos.

Storyboards do filme ‘Sangue Negro’ (Fonte: P.K. MacCarthy)

A melhor estratégia, para uma boa decupagem, é ler o roteiro várias vezes, compreender os momentos de conflito e refletir sobre quais os melhores enquadramentos, angulações e movimentos de câmera para transmitir determinadas emoções, de modo a contar a história o mais visualmente possível.

O cineasta norte-americano Martin Scorsese resume perfeitamente a importância da decupagem: “Cinema é sobre o que está no enquadramento e também sobre o que não está.” Ou seja, muito além do que vemos na tela, um filme é resultado das escolhas criativas de direção e dos aspectos práticos de produção que acontecem fora de quadro.

Martin Scorsese no set de O Aviador (Divulgação)

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